sábado, 3 de novembro de 2012

New Order - Movement

Mal terminava o funeral de Ian Curtis e a Joy Division encerrara definitivamente as suas atividades, seus membros restantes começavam a trabalhar em um novo projeto, o mundialmente famoso New Order.

E logo em 1981 resolveram lançar um disco, Movement, provavelmente com muitos dos sons que estariam num eventual próximo álbum da Joy Division, cuja sonoridade ainda estava muito presente na influência das principais cabeças pensantes da banda, o guitarrista Bernard Sumner e o baixista Peter Hook.

Aliás, há uma curiosidade sobre esses dois. Na realidade, quem era pra ser de fato o vocalista do novo grupo era Hooky e não Sumner tal como vemos hoje. 

Tanto isso é verdade que a faixa que abre o disco, Dreams Never End, é cantada por Hooky; que só não continuou nos vocais principais por causa do consumo excessivo de cigarro e de bebidas alcoólicas, que deveras deterioraram sua voz.

Embora já tivessem alcançado certo reconhecimento não só na Inglaterra tendo lançado Unknown Pleasures (1979) e Closer (1980), ao menos repetir o sucesso sob nome e proposta diferentes não seria tarefa das mais fáceis.

Ainda mais quando a imprensa inglesa, que adora criar uma polêmica para vender, resolveu questionar as preferências políticas da banda, sob o pretexto de que "nova ordem" era o que Hitler gostaria de impor no mundo caso tivesse vencido a 2ª Guerra Mundial.

Mas deixando um pouco de lado os aspectos históricos e voltando para os musicais, que são os que realmente importam aqui, é necessário que se faça algumas observações. A primeira delas é que os elementos eletrônicos, ligeiramente experimentados na Joy Division, tomam uma proporção bem maior nesse primeiro trabalho do New Order (e chegaria em níveis inimagináveis nos discos posteriores).

Aliás, é muito interessante de se ver o trabalho de programação eletrônica, que inclusive, é realizado pelos quatro membros da banda, mas predominantemente pelo baterista Stephen Morris, que deste modo, posiciona-se no álbum como uma espécie de maestro.

E abrindo o disco, a já citada Dreams Never End, que de eletrônica não tem é nada. Trata-se definitivamente de um post-punk, rápido e direto ao ponto. Mas por outro lado, nela já nota-se mais uma característica que seria usada até a exausão não só nesse disco mas em toda a discografia do New Order. Se na Joy Division, Hook já gostava de usar notas mais agudas no baixo, aqui ele trabalha o instrumento quase como uma terceira guitarra.

Embora seja quase um disco de electropop, os momentos de melancolia ainda predominam. As peças que deixam isso em maior evidência são Truth e I.C.B, que quer dizer "Ian Curtis buried" (pt: Ian Curtis enterrado), embora ninguém da banda nunca tenha confirmado isso. 

Mas caso isso seja realmente verdade, e é o que se acredita, mostra que a banda tinha em si uma necessidade natural de querer quebrar qualquer vínculo com Ian e a Joy Division.

Essa talvez também seja uma das explicações pela razão de Sumner ser o vocalista e não Hooky. O estilo vocal do baixista fazia lembrar bastante o de Curtis, o que também pode ser visto em Doubts Even Here.

Aliás, uma curiosidade sobre essa faixa, é que quem também empresta sua voz a ela é Gillian Gilbert, notoriamente conhecida por quase nunca falar ou dar entrevistas.

Como se tratava de uma fase de transição, era natural também que algumas coisas novas e mais condizentes com a proposta do New Order iria aparecer. Senses é bastante eletrônica, ainda que traga uma esteticidade sombria. Já Chosen Time é mais dançante, é o equilíbrio quase perfeito entre o post-punk e o electropop. Ligeiramente acelerada, traz duas linhas de baixo, outro dos artifícios que Hooky ainda usaria e muito na obra da banda, além da bateria sampleada. 

E o primeiro disco do New Order, que tem pouco mais de trinta e cinco minutos de duração, encerra-se logo na oitava faixa, com Denial, que já dá pistas do que as pessoas poderiam esperar em Power, Corruption & Lies (1983), sucessor de Movement.

Falando sobre a peça de modo mais abrangente, há de se convir que indiscutivelmente trata-se do disco mais difícil da banda, que ainda não tinha uma identidade musical formada. 

Flutuando entre influências novas e referências antigas, era evidente que a banda ainda estava apenas no início da busca do som que a caracterizaria como uma das maiores bandas pop (quiçá a maior) do mundo.

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